segunda-feira, 14 de setembro de 2015

DORNES NO RIO ZÊZERE (ALBUFEIRA DO CASTELO DO BODE)






DORNES

no RIO ZÊZERE

(ALBUFEIRA DO CASTELO DO BODE)

Com um céu plúmbeo a criar preocupação, cheguei à aldeia da Serra, na orla da Albufeira do Castelo do Bode, proveniente de Lisboa, primeiro pela A1 até ao nó de Torres Novas e depois pela A 23 para Tomar seguindo depois pela A13 e finalmente pela EM531 até à saída Serra.

Foi já na orla da Albufeira que, num belo recanto do Rio Zêzere, tive as duas primeiras surpresas do dia e quase em simultâneo. Não só ali me aguardava um pequeno mas bonito cais de atracação de barcos de recreio, 
 


como, quase milagrosamente, o manto de nuvens se foi dissipando dando lugar a um belo céu azul que ali enquadrou maravilhosamente a linda paisagem do nosso Rio Zêzere.



                       

Inteiramente português, este rio nasce junto a Cântaro Magro na Serra da Estrela, a cerca de 1900 metros de altitude, passa por Manteigas e nas imediações da Covilhã, seguindo depois para Sudoeste, só vindo a confluir com o Rio Tejo a Oeste de Constância. Sendo por isso um afluente do Tejo, ao qual chega depois de cerca de duzentos quilómetros de percurso, constitui o segundo maior rio inteiramente português, logo a seguir ao Mondego. Os seu significativos desníveis, associados a um caudal de água que chega a ser superior a 10 000m3/s, tornam este rio notável sob o ponto de vista hidroeléctrico, comportando actualmente três barragens: Bouçã, Cabril e Castelo do Bode, que, no seu conjunto, produzem anualmente cerca de 700 GW.
                                     

Foi precisamente à Albufeira do Castelo do Bode que dediquei o passeio de um lindo dia do início de Agosto de 2015, com início, como já referido, no pequeno cais de atracação da aldeia de Serra, nas imediações de Tomar (não esquecer que o Rio Nabão que banha esta cidade é um dos afluentes do Rio Zêzere, cobrindo cerca de 1056 Km, dos cerca de 5043 Km da Bacia Hidrográfica do Zêzere). 
                         


Já sob um límpido céu azul abrilhantado por um luminoso sol, iniciei a subida do Rio Zêzere num elegante barco de recreio, cuja dona e minha amiga capitaneava com perícia e simpatia, proporcionando-me e a minha família, um maravilhoso dia naquela magnífica Albufeira.                                                     

Das suas margens predominantemente xistosas, mas com afluências locais de granitos, arenitos, calcários vários e margas e cobertas de pinheiros a perder de vista, saliento algumas pequenas ilhas e formações rochosas assaz curiosas.
                
Sendo proibido construir naquelas margens, são ali raras as construções que atraem a nossa vista, com excepção de algumas casas isoladas e disfarçadas na paisagem, 















um Mosteiro e uma Pousada lá no alto e algumas pequenas e antigas aldeias disseminadas harmoniosamente no verde intenso dos pinheiros. Mais adiante, continuando a subir o Zêzere, passei junto da atarracada Ponte da Ursa
      

e, depois, sob uma ponte já maior que, ali, liga Ferreira do Zêzere (localizada no extremo Norte do Ribatejo) a Vila de Rei, quebrando ainda que com o seu pouco intenso trafego, o silêncio e a calmaria daquelas tranquilas paisagens.
                                 

Foi já junto à povoação de Trízio (Concelho da Sertã) que, mesmo junto ao rio, deparei com o Centro Náutico do Zêzere (onde se podem praticar vários desportos náuticos),

       

      
e com um bonito restaurante/esplanada que havia sido previamente selecionado pela nossa anfitriã, para almoçarmos.               
                                             

Na outra margem, foi-me referida a existência dos vilarejos de Rio Fundeiro e Martinela, estes já no Concelho de Ferreira do Zêzere. Do nosso lado, a Praia de Trízio situa-se numa pequena península que ali define a fronteira dos Distritos de Santarém e Castelo Branco. 
                                       


Segundo me informaram, para ali chegar vindos por terra e provenientes da Sertã, basta fazer a estrada até Palhais e depois seguir por uma outra com poucos desvios, que conduz directamente ao Rio Zêzere, precisamente onde este, na sua margem esquerda, recebe as águas da Ribeira de Isna. Claro que no Restaurante/Esplanada de Trízio, não seria espectável comer outra coisa, que não os célebres maranhos, que dão o nome àquelas terras (Terras do Maranho).
                                      

Retomando depois o passeio de barco, foi ainda necessário contornar várias curvas do rio para que, subitamente, pudesse avistar lá no alto de uma pequena península,
                                    


 a célebre Vila de Dornes... 

...com a sua torre templária de cinco faces dominando a povoação. 


Ao que consta, esta torre de traçado pentagonal, único no País, terá sido construída sobre o que restava de outra torre romana que se diz ter sido mandada erigir por Sertório, o célebre general que morreu assassinado no ano 72 a. C.
                         

                               

Também a história de Dornes é muito antiga, tendo origem numa igreja mandada construir pela Rainha Santa Isabel no penhasco onde já existia a torre templária, por se ter ali enamorado daquela pequena península, agora banhada pela Albufeira do Castelo do Bode. Nas imediações da igreja matriz que encontrei fechada, estende-se um longo e curioso cemitério tradicional português, em socalcos, que desce na direcção da ponta da pequena península. 


                               
                         


As suas flores encontram-se em grande profusão, mas são na sua grande maioria artificiais.
       

A pequena vila de Dornes, que já foi Comenda da Ordem de Cristo e Concelho até 1836, é hoje uma das Freguesias do Concelho de Ferreira do Zêzere e conta apenas com pouco mais de meio milhar de habitantes. Em minha modesta opinião, ao ser um dos mais belos quadros paisagísticos da multi-variada paisagem portuguesa, com as suas lindas cores e curvas das águas do Rio Zêzere que por ali se vão esgueirando como que apanhadas por bonitas encostas, 
 

 
  

ilhas e ilhéus, e dispondo de acessos relativamente fáceis, bem merecia ser muito melhor tratada pela edilidade, de modo a poder vir a ser bastante mais consubstanciada como um dos numerosos pontos estrategicamente integrados nos roteiros turísticos privilegiados deste nosso lindo Portugal.
   
                               
A beleza e especificidade da paisagem de Dornes, justifica amplamente a visita de todos os amantes de paisagens únicas e especiais. Ao contrário de mim, que ali acedi vinda de barco pelo Sul, também a ela se pode chegar pela A1 até ao nó de Torres Novas, seguindo depois, primeiro na direcção de Tomar e depois, de Ferreira do Zêzere. Da saída desta até Dornes distam apenas uns escassos 5 quilómetros.

Já no meu regresso de barco até à aldeia de Serra, continuei a admirar todas aquelas belas paisagens da Albufeira do Castelo do Bode e, a dado momento, o espelho daquelas águas era de tal modo calmo e brilhante, que dava a sensação de que elas estavam paradas. Pelos vistos, em tais ocasiões, é necessário banhar-se nelas para se ter a certeza de que o corpo desliza mansamente numa suave corrente para Sul, na incessante procura da confluência do Zêzere com o Tejo.
                               

É pois, com este sentir, que aqui vos deixo, meus amigos, uma sugestão de um dia bem passado na Albufeira do Castelo do Bode em geral e do Trízio e de Dornes em particular.

                            Tenham Boa Viagem.


10 comentários:

  1. Este novo tipo de blog é bem mais simpático. Dornes conheço bem, já lá passei algumas férias, temos amigos na zona. Não tive o privilégio de lá chegar de barco...
    Gostei dos apontamentos histórico-culturais. Continua que vais bem.
    bjs e abraços

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  2. Nota: as horas no blog são algures da costa oeste dos States, talvez. Está a indicar 8 horas mais cedo. Pelo blog o teu artigo foi publicado às 5 da manhã. Isso é que foi madrugar!

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  3. Bom trabalho, dedicação com muito amor. É pra continuar!

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  4. Obrigada caro Kine pelas suas estmulantes palavras.

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  5. Este é um local de eleição que combina a natureza e bem estar. A sua sensibilidade capta esta beleza de uma forma única conjugando com apontamentos do "saber" como as pontes, os terrenos e paisagens. Muito obrigada . Apenas peço um favor continue a mostrar através da sua sensibilidade, o que Portugal tem de beleza. Isabel Martins

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  6. Obrigada amiga! Este lugar é lindo,e mais ainda com a sua forma dever o Mundo!!!

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    1. Obrigada minha Amiga, por estas gentis palavras, mas os olhos de quem vê também ajudam a ver "nas entrelinhas". Jinhos.

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