sábado, 31 de outubro de 2015

BARREIRO






BARREIRO
(ao Sul do Tejo)





Tendo nascido numa das suas Freguesias, a do Lavradio, decidi hoje escrever um pouco sobre o Barreiro. Esta cidade, cuja história começou como aldeia ribeirinha (proba), repovoada após a Reconquista , sob a égide dos Cavaleiros de Santiago da Espada. Passou a vila só em 1521 e, finalmente, a cidade, já nos meus dias, em 1984. Ainda que desconhecido por muitos, o Barreiro desempenhou um papel importante na História de Portugal Senão vejamos:

- foi uma terra fundamental durante a Epopeia Marítima Portuguesa. Primeiro, porque foi nela que foram acabadas as mais importantes naus dessa epopeia. Ainda que as naus começassem normalmente por ser construídas em Lisboa, quando o Inverno chegava, era nos estaleiros da Feitoria da Telha, mais abrigada das intempéries e onde o acervo de madeira era fácil, que as naus tinham de ser acabadas.

Imagem actual do local da Feitoria da Telha

Segundo, porque os seus 28 fornos (1 na Mata da Machada e 27 no Complexo de Vale Zebro) foram essenciais para o fabrico dos biscoitos com que as naus eram abastecidas. Tanto mais que o Complexo de Vale Zebro, que remonta ao reinado de D. Afonso V, dispunha também de armazéns de trigo que depois era moído nos diferentes moinhos de marés da região.

Remanescente do Moinho de Marés da Brancamp, que ainda se podem ver no Barreiro

Também o vinho e o sal produzidos nesta zona foram da maior importância no abastecimento das naus. Por estas e outras razões, a importância do Barreiro na Epopeia Marítima foi tal que até Gil Vicente o referenciou na sua Obra Literária, pelo menos seis vezes, entre as quais no próprio "Auto da Barca do Inferno".

Finalmente, porque Vasco da Gama e seu irmão terão visitado várias vezes o Barreiro para supervisionar a construção das naus e verificar a logística dos navios que teriam de comandar rumo à Índia. Quem diria então a Vasco da Gama que ainda voltaria ao Barreiro, 300 anos depois, mas então já transportado por outrem, entre as suas duas últimas moradas: em 10 de Junho de 1880, os seus ossos foram transladados (ao mesmo tempo dos de Camões) da Vidigueira para o Mosteiro dos Jerónimos onde ainda hoje o seu belo túmulo encanta os turistas.


Também Álvaro Velho (séculos XV e XVI), que foi o responsável pelo Diário de Bordo ou Roteiro da Índia, terá nascido no Barreiro onde, ainda hoje ali dá nome, não só a uma das ruas da cidade, como a uma das suas escolas secundárias, a Escola Álvaro Velho no Lavradio.


Foi precisamente nas imediações do local onde, já na minha juventude, foi construída esta escola, que eu viria a nascer em Julho de 1946. Nessa época, o Barreiro era já um potentado Industrial, primeiro graças às ferrovias ali instaladas desde 1861 (Caminhos de Ferro do Sul e Sueste) e pela dinâmica industrial ali desenvolvida desde 1889 pelo excelente empresário Alfredo da Silva ( veja-se a minha homenagem a este industrial em: http://m-elisabete-m-almeida.blogspot.pt/p/partilha-e-prazer.html ). Este Homem excepcional escolheu o Barreiro para implementar o seu grandioso projecto de desenvolvimento, não só pela posição geográfica da zona, como também pela existência das vias férreas já referidas. 


Do seu imenso conglomerado industrial, que chegou a representar, entre outros a segunda Indústria Química da Europa (CUF-Companhia União Fabril), logo a seguir à da Alemanha, restam agora quase inoperacionais as Oficinas da CP,


...alguns Bairros Operários


...e o relativamente pequeno Parque Industrial.Empresarial da Baía do Tejo, nome que veio substituir os da antiga CUF, depois Quimigal e mais tarde Quimiparque. Digna de boa nota é ainda a Fisipe, que continua a laborar no Lavradio, onde fabrica fibras de cariz bem inovador e diversificado.



                              


Filha de Empregados da CUF, nasci e vivi no Barreiro até 1987, primeiro no Lavradio na Rua D. José Carcamo Lobo e, nos últimos anos, na Rua Miguel Pais, já no Barreiro. No primeiro caso, consegui saber que o nome da minha rua ficou a dever-se a um oficial general do Exército Português moço-fidalgo da Casa Real e comendador da Ordem de Cristo, que foi incorporado nos exércitos de Napoleão Bonaparte, como membro da Legião Portuguesa. Já na sobejamente conhecida Avenida Miguel Pais, acabei por saber que ali existiu uma fábrica de Cortiças da Brancamp-Sociedade Nacional de Cortiças (até 1950 o concelho do Barreiro integrou 27 fábricas de cortiça) e também uma fábrica de massas. Os prédios onde vivi foram construídos já em datas relativamente recentes, exactamente no local da referida fábrica de cortiça.


                                                         Os prédios onde vivi, vistos do lado de Alburrica

Destes prédios desfrutei durante vários anos, de vistas magníficas sobre o rio.




           


Do actual património construído do Barreiro, saliento a Igreja de Santa Cruz e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, tendo esta última iniciado actividade com a sua tradicional Festa de 07 de Outubro, já em 1736. A sua importância alastrou além Atlântico, festejando-se anualmente na cidade do Maranhão, no Brasil, a Festa de Nossa Senhora do Rosário do Barreiro.
                               

Aspectos actuais da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro

Refiro também os célebres Moinhos de Alburrica... 

                               
  

...com a sua actual zona fluvial



Também uma palavra de especial apreço para a antiga Estação do Sul e Sueste, que conheci nos seus gloriosos tempos mas que hoje, quase engolida pela actividade dos "catamarans" à sua volta, se a edilidade lhe não dedica um valioso e urgente Projecto de Recuperação, pode vir a ficar transformada num "caco velho", o que, a meu ver, seria mais um "crime lesa-Pátria, como tantos outros que tenho visto consumar no nosso País nos últimos anos. 

                                         





Uma referência também especial para as orlas ribeirinhas do rio, quer na Verderena (virada a Sul), com as suas lindas vistas...










...quer na Avenida da Praia (virada a Este) onde remanesce o Moinho do Jim, quase atrás da moderna Piscina Municipal.




Entretanto, na Avenida Alfredo da Silva há pouco bastante remodelada e com bonitos passeios em calçada Portuguesa, 


...para além do Parque Municipal, que foi rebaptizado após o 25 de Abril de 1974, saliento a pouco inspirada Estátua de Alfredo da Silva e o Mercado Municipal também recentemente remodelado e actualizado, agregando a ele salas de exposições e infraestruturas nas quais incluo o Posto de Turismo. 




Nas imediações da Avenida  surpreende a Biblioteca Municipal cuja actividade sócio-cultural me parece digna de nota.


Bem ao fundo da Avenida ergue-se agora o Forum da cidade que começa a dar sinais da moléstia que está sofrendo este tipo de centros comerciais.



Falta-me agora falar das várias Sociedades Culturais e Recreativas do Barreiro, cujos embriões e espírito remontam aos tempos de Alfredo da Silva e das quais saliento as dos Franceses, dos Penicheiros e do Barreirense. É nelas que muita da juventude barreirense se revê. 

Entretanto, por falar em juventude, não quero terminar este trabalho sem deixar uma nota máxima à EICAS-Escola Industrial e Comercial Alfredo da Silva do Barreiro. 


Foi nela que, graças à existência de Alfredo da Silva, recebi uma excelente base científica na área da Química, a qual veio depois a constituir o verdadeiro embrião da minha paixão por esta disciplina que, associada à Ciência dos Materiais, viria a nortear toda minha carreira profissional de cerca de mais de 40 anos. Obrigada mais uma vez Alfredo da Silva, por teres existido e pela tua excepcional Obra.

Depois de tudo isto, digam lá se, mesmo actualmente muito diminuída comparativamente ao seu glorioso passado, o Barreiro continua ou não, a ser ainda uma bonita e interessante cidade.

(Fotos pessoais, da minha Amiga Nilza Pereira e da Internet)

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